sábado, 31 de dezembro de 2011

As comemorações do Ano Novo

( texto de Mirella Faur)

Universalmente festejado desde os tempos antigos, o Ano Novo – independentemente da data em que era comemorado – marca a transição de um ciclo de vida para outro, fechando um capítulo e abrindo outro no misterioso livro da existência. As datas variam em função do país, fatores climáticos, conjunções planetárias, posição de determinadas estrelas, mudanças de estações, festas religiosas, datas do calendário agrícola ou pastoril, enchentes de rios, chegada das monções ou das chuvas.

A noção de fim ou início de um ano-calendário tinha pouca importância para os povos antigos cuja sobrevivência dependia do clima e das variações no fornecimento de alimentos.

No antigo Egito, o início do ano era determinado pela cheia do Rio Nilo; na Babilônia, pelo início e pelo fim da colheita; no império greco-romano, a renovação da natureza na primavera, em março, indicava o começo do Ano Novo, enquanto os celtas consideravam o sabbat Samhain, no dia 31 de outubro, como o marco entre a metade clara e a escura do ano, o que representava a véspera do Ano Novo. Na China, até hoje o Ano Novo é assinalado pela Lua Cheia do mês de fevereiro; na Índia, as datas variam de acordo com a região geográfica e, na Oceania, é a aparição das Plêiades que anuncia um novo ciclo.

Muitos povos agrícolas e nômades determinavam seu ciclo anual em função dos movimentos da Lua. Os mais antigos calendários eram os lunares, porém, com o passar do tempo, as autoridades religiosas acrescentaram mais meses, além dos treze iniciais. Devido às divergências nos cálculos e critérios adotados, surgiram calendários mistos soli-lunares até que, finalmente, a maior parte dos países adotou o calendário solar. O mais antigo destes sistemas de medição do tempo pelo movimento do Sol foi criado pelos egípcios em 4236 a.C., que dividia o ano em 36 grupos de 10 dias, mais cinco suplementares dedicados às festas, acrescentando-se mais um dia a cada quatro anos.

Na Europa, o calendário solar Juliano, que determinava o início do ano em março, foi criado por Julio César em 46 d.C. para corrigir as dificuldades encontradas com a contagem das lunações. Enquanto o calendário egípcio dedicava os cinco últimos dias anuais para as festividades, o sistema europeu distribuiu estes dias ao longo do ano e criou o ano bissexto. A conseqüência desta divisão foi um erro acumulado de oito dias ao longo de 1000 anos. Para corrigir este erro, o Papa Gregório XIII criou o seu calendário, o Gregoriano, em 1582, abolindo dez dias, retificando os anos bissextos de acordo com o ano trópico e mudando a data do início do ano de março para primeiro de janeiro, bem como antecipando o Natal, de 6 de janeiro para 25 de dezembro. Este passou a ser o calendário adotado pelo mundo ocidental, mas alguns países de religião protestante se rebelaram contra a decisão do Papa e somente aceitaram esse calendário no século XVIII, o que criou muita confusão entre as datas dos calendários antigo e novo.

No Oriente, as celebrações do Ano Novo diferem de um país para outro. No Japão, existe um assim chamado Ano Novo Maior e outro Menor. O primeiro, calculado pelo antigo calendário chinês, é festejado durante os primeiros sete dias do primeiro mês do ano. As pessoas usam roupas novas, visitam-se e trocam presentes entre si. Os altares do xintoísmo são decorados com flores e recebem várias oferendas. São servidas comidas tradicionais à base de arroz e regadas a saquê. O Ano Novo Menor é associado a datas agrícolas e suas celebrações envolvem magias e simpatias para proporcionar boas colheitas como encenações ritualísticas do ato de plantar e colher, oferendas de bolo de arroz modeladas em forma de produtos agrícolas, ferramentas e animais, e também encantamentos para espantar as aves de rapina e insetos predadores.

Na China, o festival de Ano Novo ocorre em fevereiro, na primeira lua cheia. As casas são cuidadosamente preparadas, as lojas fechadas, as dívidas pagas, os ídolos de papel são trocados e as faixas de papel vermelhas são pintadas com ideogramas de saúde, boa sorte, abundância, felicidade e proteção contra os maus espíritos. A cor vermelha, que representa sorte, predomina nas decorações e nas roupas. Oferendas são feitas para as divindades e para os ancestrais, as pessoas tocam símbolos e tambores (o barulho é essencial para espantar os azares e as doenças), soltam-se fogos de artifício e são feitas procissões com lanternas.

Na Índia, o festival marca a virada do ano no solstício de inverno. É um período de purificação cerimonial nos rios sagrados e de peregrinação aos templos, levando-se oferendas e orações. O gado é enfeitado com guirlandas de flores e as pessoas se alegram com danças, músicas, presentes e comidas tradicionais.

Os nativos norte-americanos têm comemorações diferentes, de acordo com a tribo e a data escolhida, variando de fevereiro (para os sênecas), novembro (para os hopis), até o solstício de inverno (pueblos). Acendem-se fogueiras, pessoas mascaradas andam de casa em casa, os xamãs limpam os doentes com cinza e fumaça de ervas e as mulheres salpicam água nos passantes. Os erros são confessados nos conselhos de anciãos e oferendas de fumo e fubá são feitas para as divindades da Terra e do Céu. Os hopis e os pueblos realizam os ritos de passagem para iniciar os jovens no mundo dos adultos e celebram o retorno dos kachinas (espíritos ancestrais e da natureza) durante o festival Soyal e Wuwuchim.

Os antigos festivais ocidentais de Ano Novo reencenavam a regeneração e a recriação do mundo. O tempo parava e começava de novo, as pessoas podiam iniciar um novo ciclo, virando a página para recomeçar. Com as mudanças do calendário (antecipando-se o ano novo de março para janeiro), foram reativadas as antigas memórias dos festejos romanos de Saturnália. A origem de Saturnália é obscura, mas era a festa mais popular de Roma antiga, quando todos "enlouqueciam". O velho ano morria e antes que o novo nascesse havia um intervalo de caos, quando o tempo era suspenso, as leis civis e morais abolidas, os prisioneiros libertados e todas as orgias permitidas. A autoridade representada por Saturno – o implacável Senhor do Tempo – era substituída pela licenciosidade do Rei da Desordem (um jovem escolhido para este papel), que incitava a todos a transgredirem as regras. No fim das festas, ele era sacrificado no altar do deus Saturno. Havia também o combate simbólico entre homens representando o velho e o novo ano, finalizando com rituais de expurgo dos resíduos do passado e purificações. A Saturnália, após doze dias de carnaval, terminava com Sigillaria, quando as crianças recebiam presentes.

Festivais parecidos ocorriam também em Creta, Grécia, Ásia (na Babilônia, os 12 dias de Sacaea representavam a luta entre o caos e a ordem, o bem e o mal, o inverno e o verão). Reminiscências desses antigos festivais sobreviveram nas festas de fim de ano dos países europeus. Os povos celtas celebravam, no sabbat Samhain, o mesmo conceito de caos e reversão da ordem normal, acrescentando rituais específicos para reverenciar os ancestrais, práticas mágicas e de adivinhação para atrair amor, fertilidade, boa sorte e abundância para o novo ano. São algumas dessas características que persistiram nas festas de Halloween, como nas brincadeiras das crianças pedindo doces ou se fantasiando de fantasmas e nas tradições dos bailes de máscaras.

Na Romênia, os antigos costumes herdados dos dacos e romanos sintetizavam a mescla da tradição pagã e cristã. Matavam-se porcos (representação zoomorfa do espírito dos grãos), preparavam-se comidas tradicionais de cereais, festejava-se a transição da morte para a vida e realizavam-se danças típicas com máscaras e encenações rituais. À meia noite, parava-se o relógio e apagavam-se as luzes, para que, ao acendê-las, a explosão de alegria e os brindes marcassem o renascimento e a renovação. As mulheres usavam encantamentos e adivinhações para propiciar felicidades, amor e saúde.

Na Espanha, até hoje as famílias costumam se reunir na véspera do Ano Novo para troca de presentes e comer 12 uvas antes de o relógio anunciar a passagem do ano. A prática visa atrair boa sorte e a felicidade.

No Brasil, além das festas profanas, observa-se um aumento nas cerimônias religiosas e no crescente número de pessoas – adeptos ou não das religiões afro-brasileiras – que levam oferendas para Iemanjá, a Deusa Mãe iorubá, Senhora do Mar.


Comemoremos as dádivas recebidas, o conhecimento adquirido, as transformações e as realizações!!!
Agradeço a todos que estiveram ao meu lado... me ensinando, me ajudando, me incentivando!!!
Que em 2012 tenhamos muitas bençãos, muitas reflexões e muitas mudanças benéficas.
                                                                                      Axéee!!!

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Ela não sabe...

Ela não sabe que o homem chegou à Lua.
Que a vida é uma contagem regressiva.
Que Berlim já foi duas.
Que na Idade Média a igreja vendia lugar no céu.
Que homens e dinossauros nunca conviveram.
Que muitos remédios não curam, mas viciam.
Que o voto do povo salvou Barrabás e condenou Jesus.
Que o computador foi criado para resolver problemas que não tínhamos.
Que o sudeste alaga e o nordeste seca.
Que sexo pode ser feito sem amor.
Que o cientista que inventou a bomba atômica recebeu um prêmio por isso.
Que somos divididos em 1º e 3º mundo.
Que você vai fazer de tudo para não repetir os erros dos seus pais.
Que Getúlio saiu da vida para entrar na História.
Que esmola é imposto informal da injustiça social.
Que somos julgados pela aparência e condenados pela cor da pele.
Que o homem ainda não decidiu se veio do macaco ou de Adão e Eva.
Que todo Mulçumano deve ir à Meca pelo menos uma vez na vida.
Que quem faz aniversário no natal não é o Papai Noel.
Que o cinema já foi mudo.
Que existe Aids.
Que não existe cura.
Quem vai explicar: você ou a vida?


GNT. Informação que forma opinião.

(GNT / Canal Globosat - Folha de S. Paulo, 3/12/2000)

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Dia após dia lutando...

África 2

(Ponto De Equilíbrio)


Não tenha medo,medo,medo,medo da escuridão
Nem tudo que é negro,negro,negro remete a escravidão.
Não tenha medo,medo,medo,medo da escuridão,nunca mais
Nem tudo que é preto, preto, preto,remete ao medo não.
Todo africano tem a cor da sua terra,Oh mãe África!
Todo africano tem a cor da sua mãe
África, África, África, África, África, África
África
Outros ares, nossa terra
De volta ao lugar que mama nos dera pra morar
E saiba donde vem, e saiba quem tu és
E saiba quem tu fostes.
Óh santo se diz cria, é porque cria tu és
Mama áfrica lhe fez irmão,irmã, da cabeça aos pés
África, África, África, África, África, África
África,ô África mãe
Ô áfrica, ô áfrica mãe
Uadádá,uadadá,uadadá
Uadádá,uadadá,uadadá
Em um grande rio,rio eu fui...
Eu fui levado em um grande rio africano
Mamãe nos deu a luz, mamãe nos deu a luz
No dia do nascimento
Mamãe nos deu a luz, mamãe nos deu a luz
E o fortalecimento
Que é preciso para o povo preto crescer
E ser fortalecido
Não tenha medo de ser quem tu és
Seja progessivo
Não tenha medo,medo,medo,medo da escuridão
Nem tudo que é negro,negro,negro remete a escravidão.
Não tenha medo,medo,medo,medo da escuridão,nunca mais
Nem tudo que é preto, preto, preto,preto...
Áfricaa,africaa...

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Palmares 1999

A cultura e o folclore são meus
Mas os livros foi você quem escreveu
Quem garante que palmares se entregou
Quem garante que Zumbi você matou
Perseguidos sem direitos nem escolas
Como podiam registrar as suas glórias
Nossa memória foi contada por vocês
E é julgada verdadeira como a própria lei
Por isso temos registrados em toda história
Uma mísera parte de nossas vitórias
É por isso que não temos sopa na colher
E sim anjinhos pra dizer que o lado mal é o candomblé
A energia vem do coração
E a alma não se entrega não
A energia vem do coração
E a alma não se entrega não
A influência dos homens bons deixou a todos ver
Que omissão total ou não
Deixa os seus valores longe de você
Então despreza a flor zulu
Sonha em ser pop na zona sul
Por favor não entenda assim
Procure o seu valor ou será o seu fim
Por isso corre pelo mundo sem jamais se encontrar
Procura as vias do passado no espelho mas não vê
E apesar de ter criado o toque do agogô
Fica de fora dos cordões do carnaval de salvador
A energia vem do coração
E a alma não se entrega não
A energia vem do coração
E a alma não se entrega não

(Natiruts)

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Tambores de Palmares

Tambores de Palmares

(Zé Vicente)

Os tambores dos negros de Palmares
Os tambores do povo de Zumbi (Bis)
Os clamores dos negros de Palmares
Os clamores do povo de Zumbi(Bis)
Coração da terra
Coração do céu
Coração da gente
Coração desse afro continente
Batucando no peito do Brasil
ÔÔÔÔÔÔÔÔÔÔÔÔÔÔÔÔÔÔÔÔÔÔ
Um clamor da terra
Um clamor do céu
Um clamor da gente
Um clamor da memória comovente
Despertando a história do Brasil
ÔÔÔÔÔÔÔÔÔÔÔÔÔÔÔÔÔÔÔÔÔÔ
Uma flor na terra
Uma flor no céu
Uma flor semente
Com as cores e axés da negra gente
Perfumando o futuro do Brasil

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Oração indígena de natal...


      Deus-Mãe não despreza a força
                 da/o mulher/homem que reza
                                      (Daniel Munduruku)
Quando eu era criança e corria pelado pela aldeia não sabia o que era natal. Não sabia o que poderiam ser aqueles dias corridos, coloridos e felizes que as pessoas das grandes cidades viviam.
Na escola meus colegas sempre falavam que era uma época de pedir presente para um certo pai de todos – que se chamava Noel – e que andava pelo mundo todo entregando presentes para os bons meninos e meninas. Foi nessa época que ouvi a primeira vez que alguém pode ser bom ou ruim.
Sempre fui ruim. Ao menos pensava assim, pois o tal pai de todos quase nada deixava para mim. Mas eu não ficava triste não. Corria para o mato e fabricava meus próprios brinquedos na tentativa de ser um bom menino para o ano vindouro. Cresci acreditando no pai de todos da mesma forma que acreditava na mula-sem-cabeça, no curupira e na matinta-perera. Ele fazia parte do meu imaginário e acreditava que ele vivia – apesar de ser feio por parecer com um poodle – no meio da mata com as outras entidades da floresta.
Depois que fiquei grande – e já vivendo na cidade – descobri que o Pai de todos era, na verdade, um grande sentimento de solidariedade que percorria a todos na época de fim de ano. Esse sentimento era propagado pela igreja através das grandes celebrações litúrgicas que preparavam o advento do Menino, filho do Pai de Todos. Foi nessa época que me senti irmão do mundo, de todos os homens e mulheres do mundo. Era como eu me sentia: membro de uma grande família. E uma família sempre celebra com os seus. E era assim que entendia as festas do final de ano. Havia troca de presentes, símbolos do kairós – o tempo que se chama hoje. Havia a partilha do pão, do abraço, do afeto, do carinho. Ágape, amor que não cabe em si. Amor que se entrega, como o menino-deus que veio cumprir sua missão.
Hoje, mais curtido pelo tempo indelével, continuo acreditando na magia que se instaura no coração do ser humano. Do mesmo jeito que creio na existência do curupira, da matinta-perera, na boiúna ou no negrinho do pastoreio. Creio na necessidade do encontro, do encanto e da partilha. Creio no poder do silêncio e da reza, do mesmo jeito que creio nos passos das danças sagradas, na coreografia da natureza e no bailar silencioso dos astros e estrelas que estão lá ainda que não estejam mais.
        Confesso, porém, que está difícil resistir à tentação de “jogar a toalha”, “entregar o jogo” e virar as costas ao tabuleiro. Nessas horas – e elas estão cada vez mais constantes – só me resta ajoelhar-me diante do Filho-menino e dizer o texto-testemunho de Tania, minha esposa há tantos anos:


Minha prece

(Tania Mara de Aquino Costa)

Querida Senhora
Venho com toda a minha humanidade
Dizer que estou aqui
Não sei bem o porquê.
Sinto que venho só pela Senhora
E por seu filho querido
Não sei o que pedir
Por isso não vou pedir nada
Apenas espero sua intercessão
Junto ao seu filho
Ele sabe do que preciso, portanto saberá o que fazer por mim.

Sabe, minha Senhora,
Eu estou num estado sem vontade
Uma preguiça no sentir, no ser.
Creio que estou em estado de choque
Um estado que me paralisa.
Só venho aqui porque, apesar de tudo,
Minha alma sente saudades suas e de seu filho
Mesmo assim, não tenho muito a dizer.
Por isso, digo apenas:
Que estou aqui!


                Daniel Munduruku é um escritor indígena com 42 livros publicados, graduado em Filosofia, tem licenciatura em História e Psicologia. Doutor em Educação pela USP. Diretor presidente do Instituto UK`A - Casa dos Saberes Ancestrais, Comendador da Ordem do Mérito Cultural da Presidência da República, Conselheiro Consultivo do Museu do Índio RJ. Membro da Academia de Letras de Lorena. Recebeu diversos prêmios no Brasil e Exterior entre eles o Prêmio Jabuti, Prêmio da Academia Brasileira de Letras, o Prêmio Érico Vanucci Mendes (outorgado pelo CNPq); Prêmio Tolerância (outorgado pela UNESCO). Muitos de seus livros receberam o selo Altamente Recomendável outorgado pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ).




sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

"Solte os cabelos e prenda o racismo"

Campanha Nacional da AMB pelo o fim da violência contra as mulheres negras
"Solte os cabelos e prenda o racismo."

Realização
Articulação de Mulheres Brasileiras

Direção, Fotografia e Edição
Janaina Oliveira Re.Fem.

Uialá Mulher
Letra e musica - Loucas de Pedra Lilás

Arranjos - Tambores de Safo

Apoio
Cinemina / Estimativa
Loucas de Pedra Lilás
Tambores de Safo

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Campanha Ponto Final

A Campanha Ponto Final na violência contra Mulheres e Meninas, que está presente nas redes sociais - Orkut, Facebook e Twitter - , conta com o Canal Ponto Final no YouTube para interagir com o público. Neste canal, a Campanha apresenta seu mais recente vídeo que é um convite para que todos e todas participem do enfrentamento contra a violência contra mulheres e meninas.

O novo vídeo é uma animação dos personagens da logomarca da Campanha Ponto Final, em que uma menina faz o papel principal mostrando que para dar um ponto final na violência contra as mulheres e meninas há necessidade de consciência, solidariedade e disposição para reverter esta situação.
O roteiro e direção são da cineasta gaúcha Mirela Kruel, que vem elaborando todos os materiais audiovisuais da Campanha, em nível nacional e internacional, contemplando os planos desenvolvidos pelo Brasil, Bolívia, Guatemala e Haiti, países que conduzem esta ação na região sob a coordenação da Rede de Saúde das Mulheres Latinoamericanas e do Caribe - RSMLAC. A animação e o desenho são de Alexandre Linck.


Acesse o link PARTICIPE no site da Campanha Ponto Final e faça sua adesão para dar um ponto final na violência contra as mulheres e meninas!




segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

A criação de Aleijadinho

"Perdi os dedos, mas não a força e a vontade esculpir. 
Aprendi a usar os joelhos como quem usa os pés. 
Amarrei os instrumentos às mãos para continuar a trabalhar. 
Afinal, a criação nasce na cabeça, não na ponta dos pés".

(Heróis de Todo Mundo: Aleijadinho)

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Nossas raízes africanas (parte 1)

Cadeira de Balanço



E Oxalá nos criou

         - Vô, quem somos? De onde viemos? - perguntou Bete, de supetão, enquanto o avô Luís temperava um peixe para o almoço.
         - Nossa, Bete, que perguntas mais existenciais! O que anda passando agora por sua cabecinha?
         - Existenciais? O que é isso?
         - Oxalá, meu pai! Eu e minha língua comprida! Esqueci que você é uma metralhadora de perguntas e isso aqui não vai ter mais fim!
          Então, vovô, o senhor vê se fala a minha língua e responda as minhas perguntas: Quem somos? De onde viemos?
         - Calma, minha princesa nagô! Você tem a vida inteira pela frente para descobrir isso. Mas, me diga, o que você quer saber exatamente? Quem somos nós, o povo negro, os brasileiros? Ou quem somos nós, a humanidade inteira? De onde viemos nós, os negros, ou como surgiu a humanidade inteira?
         - E tem diferença, vovô? Nós, o povo negro, não fazemos parte da humanidade?
         - Nossa! Hoje vou precisar recorrer os orixás. Você está fazendo perguntas muito difíceis... Sim, querida, claro que nós, o povo negro, fazemos parte da humanidade inteira! Algumas pesquisas científicas afirmam que o ser humano nasceu na África e depois ganhou o mundo, mas isso é uma longa história; eu prefiro contar para você como Oxalá criou os homens.
         - Oxalá? Não foi Deus que nos criou? Ai, vovô, depois sou eu que faço perguntas difíceis... mas eu acho que é o senhor que só dá respostas difíceis!
         - Quietinha, silêncio e preste muita atenção, porque história de orixá é coisa séria. Precisa ouvir concentrada, como se deve ouvir toda boa história.
         - Tudo começou na África negra, onde nasceram os smeus e os seus ancestrais. São muitos povos, que falam muitas línguas, que têm diferentes religiões, muitos deuses, costumes muito diferentes, tradições muito antigas. Hoje o continente africano é um mundo, cada pedaço daquele continente, tão rico e tão belo e ao mesmo tempo tão sofrido, é um pedaço do mundo.
         - Vô, como é a África?
         - Na África existem desertos; há florestas com muitas árvores e com poucas também; há grandes montanhas, lingas praias, rios enormes como o Nilo e o rio Congo. Há leões, girafas, elefantes, camelos; há pirâmides onde foram enterrados reis poderosos, chamados faraós; há diamante, petróleo. Há povos de origem européia, asiática; há guerras sangrentas, gente que acredita num deus chamado Alá, gente que acredita em vários deuses. Existem escritores brilhantes, que escrevem em língua portuguesa, como o Mia Couto... Enfim, se eu ficar relatando tudo o que existe nesse imenso continente, a gente não vai terminar nunca.
         - Nossa, vô, quantas coisas! Há muito o que se aprender sobre a África, suas histórias, seus povos, os lugares de lá, os animais... Mas você não me respondeu ainda...
         - Calma, criança! Eu vou lhe contar um mitos dos iorubás, povos da região da Nigéria, que fica na África. Eles vieram como escravos para o continente americano pra trabalhar e produzir riquezas para os colonizadores, para os donos de escravos, durante os quase quatrocentros anos que a escravidão aqui durou.
         - Eu não gosto de lembrar desse tempo, vovô. É triste demais saber que nosso povo foi escravizado...
         - Mas não foram só os negros africanos e seus descendentes que foram escravizados, Bete. Os índios, que eram donos de tudo isso aqui, também foram.
         - Os índios também, vovô? Eu não sabia...
         - Sim, os indígenas e até mesmo o branco pobre viviam como escravos nessa terra. Foi um tempo longo e difícil, minha netinha. Mas vamos falar dos orixás... Você sabe o que são orixás, não sabe?
         - Sei, sim, o senhor já me ensinou: São dos deuses dos povos negros africanos e, hoje, no Brasil, eles são as divindades do Candomblé.
         - Isso mesmo, o candomblé é uma das religiões negras do Brasil. Há muitos orixás no Candomblé e em outras religiões afro-brasileiras. Eles se parecem com os humanos: ficam alegres e tristes, lutam por aquilo que desejam, às vezes ganham, às vezes perdem. Têm qualidades e defeitos, sentem raiva e amor, são bondosos, mas podem ser maus também: tudo depende dos humanos, que precisam fazer suas obrigações, cultuá-los como devem ser cultuados. Cada orixá tem um jeito de ser louvado, cada um exige um ritual, uma cerimônia. Eles também podem assumir muitas faces. Por exemplo, existe Iemanjá nova e velha, guerreira e boa mãe e muitas outras. Cada uma aprecia uma forma de culto, exige um tipo de dança, de vestimenta, de alimento, de cores. E para saber tudo isso é preciso entender os mitos.
         -Ah, vô! Foi bom o senhor falar nisso. Outro dia, aquele chato do irmão da Rita, o Rubens, viu um despacho na encruzilhada e ficou dizendo que aquilo era coisa do diabo! Eu expliquei para ele que não era, que eu não sabia o que era realmente, mas que aquilo deveria ser trabalho pra Exu abrir caminhos.
         -Estou orgulhoso de você, Bete! Cada dia você aprende mais sobre a nossa religião. Exu não tem nada a ver com o diabo. As pessoas que não conhecem o Candomblé acham que é isso. Exu é um grande mensageiro e guardião dos caminhos que nos levam até os orixás. Sem ele, nós, humanos, não poderíamos entrar em contato com os deuses. É por isso que antes de fazer qualquer ritual no Candomblé pede-se Agô, ou seja, licença pra Exu. Exu está presente em todos os rituais, para qualquer orixá.
         - Mas por que, vovô? Como ele ficou assim, tão importante?
         - Como eu disse, os mitos explicam tudo isso. Mas você não está com fome?
         - Tô sim, vovô, e esse peixe com dendê está tão perfumado!
         -É, Bete, com exceção de Oxalá, minha comida é pra santo nenhum botar defeito!
         - Oxalá não gosta de dendê, vovô?
         -Gosta não, Bete. E também não pode comer sal nem tomar vinho. Comida de Oxalá é arroz e mel. Mas isso é uma outra história... Vamos almoçar?
         - E o mito dos iorubás, vovô?
         - É mesmo! Ah, Fica pra depois do almoço, porque a fome que estou sentindo agora é tão grande quanto o CONTINENTE AFRICANO...

(Autoria desconhecida)

Santos e Orixás

Sincretismo

(Sérgio Santos)

O negro religioso
Dentro de casa tem seu gongá
Porém desde o cativeiro
Mudou de nome seu Orixá
E assim Dona Janaína
É Nossa Senhora da Conceição,
Oxum é a das Candeias,
Oxossi é São Sebastião
Saravá
Meu santo,
Amém.
São Roque é Obaluaiê
Como Santa Bárbara é Iansã,
São Lázaro é Omolu,
São Jorge é Ogum, Santana é Nana
E assim São Bartolomeu é Oxumaré,
São Pedro é Xangô,
Obá é Joana D'Arc
E Pai Oxalá é Nosso Senhor
Saravá
Meu santo,
Amém.

Lei 11.645/2008

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Áfrico

Quem foi que fez brasileiro
Bater tambor de jongo?
De onde é que sai quem batuca
Com o pé terno-de-congo?
Quem é, me ensina quem foi
Que fez o povo dançar
Tambor-de-mina, Bumba-meu-boi
Boi-bumbá, o bambaquerê
O samba, o ijexá
Quando o Brasil resolveu cantar?

Quem foi que pôs o lamento
Na voz da lavadeira?
Quem fez aqui baticum
Candomblé e a capoeira?
Quem trouxe o maracatu?
Quem fez o maculelê
Mineiro-pau, coco, caxambu
Banguelê, a xiba, o lundu
O cateretê
Quando o Brasil resolveu cantar?

Me diz quem foi que fez
A dor se transformar
Em som de carnaval
Em batucada
Em melodia?
Que força fez mudar
Toda tristeza
Em alegria
Quando o Brasil resolveu cantar?

(Letra: Sérgio Santos)