Ó árvore do esquecimento;
Símbolo de todo o meu tormento.
Por que nascestes à beira mar?
Por que nascestes?
Cruzei os mares sem te ver, meu Benin;
Fui arrancado do teu colo, minha mãe-terra;
Quiseram roubar-me as lembranças de ti,
Violentaram meu corpo e minha dignidade,
Mas minha alma e meu coração estão intactos?
Deixei-os aí.
Só tocaram o que podiam ver;
O que não podiam, permaneceu puro.
Quantas vezes quis te reencontrar, chão pátrio;
Terra dos meus ancestrais, lar dos meus pais,
Para aonde retorno todas as noites
quando o corpo descansa.
Em breve estarei aí;
Em breve sentirei os cheiros da África;
Em breve reencontrarei
o meu coração e a minha alma;
O meu espírito fugirá para aí.
Despeço-me do corpo sofrido, nesta noite.
Vou romper com a dor de existir distante da vida.
Quero banhar-me nos teus rios, meu Benin;
Quero ver o sorriso do meu povo.
Estou decidido a ser eternamente livre.
Já posso ver teus braços abertos
à minha espera...
A viagem mais desejada, enfim, se inicia.
Parto feliz de volta ao lar;
De volta à vida;
Corro pro teu colo,
Pro teu abraço.
Corro para as minhas lembranças.
Corro pra ti, Benin.
CLEBER WILLAM ANTUNES DE MENEZES: Professor e bacharel em História (UERJ), pós-graduado em História Contemporânea (UFF). Leciona na rede pública estadual (RJ) e municipal (Cabo Frio) e na rede privada.
Conta-se que havia no Benin uma árvore, próxima do local de embarque dos negros que, a partir de então, seriam escravizados, chamada "árvore do esquecimento". Antes do embarque, cada escravo era obrigado a dar 9 voltas (homem) e 7 voltas (mulher), ao redor dessa árvore. Foi a partir dessa imagem que nasceu esse poema.
O título, "Banzo", é uma referência ao estado da alma, marcado por um sentimento de entristecimento tão profundo, que levava alguns negros à morte. A personagem do poema opta por voltar ao Benin, ainda que só espiritualmente. Por isso, se lança num banzo sem volta.
“A ciência é como o tronco de um baobá, que uma única pessoa não pode abraçar.”
(Provérbio Africano)
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