quarta-feira, 20 de março de 2013

A cor da pele e dos cabelos...


Por que será que todos os livros que tratam do tema ‘corpo humano’ mostram exclusivamente corpos brancos? Será que os negros são diferentes por dentro ou é apenas uma questão de preconceito por parte dos livros? A fim de descobrir se os brancos diferem anatomicamente dos negros, fizemos uma série de radiografias cujos ‘pacientes’ eram um negro e um branco. Estes raios x foram mostrados para pessoas que circulavam num determinado centro cultural e que deveriam identificar a cor das pessoas radiografadas. Adivinha o que elas responderam?

Um rapaz branco disse que “não tem como ver a pele da pessoa porque um raio x é uma fotografia de ossos”. Outro rapaz com a pele bem clara também comentou que era impossível definir porque “a única diferença entre ambas as raças é a melanina”. Uma moça branca reconheceu que “não tem como saber a cor”. Muito bem. Um jovem branco, no entanto, ponderou que um “nariz largo pode ser afro” diante de um raio x e houve uma mulher negra que arriscou um palpite: “Acho que essa chapa é de uma pessoa branca por causa da mandíbula afilada”.

Dois pulmões, um fígado, um estômago, um coração, a mesma quantidade de ossos. Tudo que existe no corpo de um branco também pode ser encontrado no corpo de um negro. Daí a dificuldade das pessoas em identificar, a partir de uma radiografia, qual a etnia do dono dos ossos fotografados. Esta mesma pesquisa poderia ter sido feita com amostras de sangue porque as respostas seriam as mesmas. Isso porque negros, brancos, pardos e até albinos fazem parte de uma única espécie: a humana.

Se não há diferenças por dentro, como explicar as diferenças que vemos por fora? Na cor da pele e na textura do pelos de todos os seres humanos há um pigmento amarelo-escuro chamado melanina, que é produzido com a função de nos proteger dos raios solares. Na presença de grande concentração de melanina, a pele humana adquire uma tonalidade marrom ou preta. Em baixas quantidades, a pele assume um tom branco-rosado.

Portanto, a única diferença entre negros e brancos está na variação da quantidade de uma substância. É ou não é um motivo muito pequeno, que não justifica as grandes diferenças sociais entre as duas raças? “Aqui no Brasil, o preconceito é de marca, não de origem. Então, são seus traços, seu cabelo, a cor da sua pele, as linhas do seu rosto que indicam que você é negro e é essa a marca que propicia a discriminação”, explica Maria Aparecida Bento, doutora em psicologia e diretora do Centro de Estudos da Relação de Trabalho e Desigualdade (CEERT).

Para saber mais

Corpo: Território da cultura
Maria Lúcia Bueno e Ana Lúcia de Castro (Org.)
Annablume, 2005

Jóias de Axé – Fios-de-contas e outros adornos do corpo – A joalheria afro-brasileira
Raul Lody
Bertrand Brasil, 2001

O que é racismo?
Joel Rufino
Brasilense, 1985

Tornar-se negro
Neuza Santos Souza
Graal, 1983

O jogo das diferenças
Luiz Alberto Oliveira Gonçalves e Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva
Belo Horizonte: Autêntica, 1998

Racista, eu? De jeito nenhum... 
Mauricio Pestana
Escala, 2004

Raça como retórica – A construção da diferença
Yvonne Maggie e Claudia Barcelos Rezende (Org.)
Civilização Brasileira, 2002

A persistência da raça – Ensaios antropológicos sobre o Brasil e a África Austral
Peter Fly
Civilização Brasileira, 2005

O sortilégio da cor – Identidade, raça e gênero no Brasil
Elisa Larkin Nascimento
Selo Negro, 2003

A invenção do ser-negro – Um percurso das idéias que naturalizaram a inferioridade dos negros
Gislene Aparecida dos Santos
Pallas, 2002

Fonte:http://www.acordacultura.org.br/nota10/programa/4


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