quinta-feira, 21 de abril de 2011

A causa indígena é de todos

     A Semana dos Povos Indígenas, celebrada no mês de abril, convida a uma aproximação deste mundo. Os livros de história falam em descoberta do Novo Mundo e, mais recentemente, fala-se em conquista. Penso que o mundo dos povos indígenas, até hoje, não foi descoberto nem conquistado.



     Quando falamos em índios, logo pensamos em gente nua na mata, ou então em pessoas pobres pedindo esmola nas cidades. Nada de mais errado! Primeiramente não existem índios, mas povos, isto é, conjunto de pessoas unidas por uma história, uma cultura, uma língua comuns que as diferenciam de outras. São povos nativos ou originários, porque foram os primeiros habitantes deste continente.

Uma nova consciência


     “Os povos indígenas da América e do mundo, fomos, nos últimos 500 anos, completamente desconhecidos pelas sociedades dominantes. Ninguém nos ouvia. Não olhavam para o nosso rosto, não lembravam de nosso nome e nem o mencionavam. Mas nós somos o vínculo mais seguro da população atual com suas raízes ancestrais.”



     A consciência de possuir uma riqueza única, presente de Deus e dos antepassados, cresceu entre os povos indígenas. A sociedade não-índia passou do desconhecimento e desprezo à admiração. Cresceu a consciência de que somos uma nação pluriétnica. A Constituição do Brasil de 1988, em seu artigo 231, reconhece aos povos indígenas “sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam”.

     Nas Américas há mais de 50 milhões de indígenas, inclusive com uma população majoritária em alguns países como Guatemala e Bolívia. O Brasil tem uma população indígena pequena em termos percentuais, porém a riqueza cultural é grande: em nosso país são cerca de 220 povos indígenas, com aproximadamente 180 línguas originais ainda faladas. Há povos livres, sem contato com a sociedade brasileira, e grande número de indígenas morando nas cidades. Há índio caçador e coletor e índio universitário, advogado, médico. 

     Vamos adentrar este mundo desconhecido e tão perto de nós. Seria bom conhecer, direta ou indiretamente, os povos que moram no seu estado. Washington Novaes fez isso e escreveu: “Entender o índio, entender sua cultura e respeitá-lo, implica despir-nos desta nossa civilização. Porque o encontro com o índio é um mergulho em outro espaço e outro tempo. Um espaço aberto de céu e terra, água e fogo. Um espaço colorido e pródigo, povoado pelos animais, vegetais e minerais e espíritos, um tempo prodigiosamente mais lento que permite consumir meses para polir o arco e aguçar a flecha. Tempo para varar a noite dançando, tempo para receber o filho que nasce ou despedir-se do ancestral que morre; tempo para rir e tempo para chorar, cantar e dançar, plantar e colher”.

Novos desafios


     Os povos indígenas, pela maneira de viver e pensar, são denúncia e proposta de alternativas. Eles incomodam os grandes, donos dos meios de comunicação, do mercado e do poder. Combatem os povos indígenas com a violência: externa e interna. Apesar da atual Constituição, as terras indígenas são invadidas, suas lideranças assassinadas, seus filhos discriminados. E quando eles reagem, dentro de seus direitos, são acusados de criminosos, de empecilhos do progresso.



     Em outras situações, a metodologia é cooptar as lideranças, oferecendo presentes e vantagens. O maior contato com as cidades, a chegada da televisão, o aumento do dinheiro nas aldeias são novas realidades que enfraquecem a resistência indígena.

     Os povos indígenas têm duas fontes de força e energia: as raízes de suas culturas que recebem uma energia acumulada por séculos, e sua fé com suas teologias ligadas ao Deus da vida; ao relacionamento com a Mãe Terra.

     Nós e os povos indígenas temos interesses em comum...

Questões para debate:
1 - Quais são os preconceitos que ainda existem entre nós em relação aos povos indígenas?
2 - Por que a civilização branca insiste em impor sua cultura aos povos indígenas?
3 - Quais são os valores culturais que deveríamos aprender com os povos indígenas?


Nello Ruffaldi,
padre, missionário do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), diretor da revista Mensageiro e do programa radiofônico Potyrõ . Belém, PA.
Endereço eletrônico: ruffaldi.nello@pime.org
Artigo publicado na edição nº 385, abril de 2008, página 2.



Fonte: http://www.mundojovem.com.br/datas-comemorativas/indio/artigo-indio-a-causa-indigena-e-de-todos-nos.php

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